O excesso de informação ajuda ou atrapalha o marketing?

FOMO, infoxicação e a ilusão da produtividade no marketing moderno.
Vivemos na era da superabundância informacional. A cada segundo, somos bombardeados por dados, relatórios, tendências, lives, podcasts e novidades que prometem revolucionar o marketing. Mas será que esse mar de informações está nos tornando mais estratégicos ou apenas mais confusos?
Segundo uma pesquisa da OpenText, 80% dos trabalhadores globais relatam sofrer com sobrecarga de informações — um salto significativo em relação aos 60% registrados em 2020. Esse fenômeno, conhecido como infoxicação, interfere diretamente na produtividade e na qualidade das decisões, tanto de profissionais quanto de consumidores.
No marketing, a consequência direta é a paralisia. Com tantos dados disponíveis e múltiplos caminhos a seguir, a tomada de decisão se torna mais lenta, insegura e, muitas vezes, reativa. Um estudo publicado na Frontiers in Neuroscience demonstrou que o excesso de estímulos informacionais pode comprometer a capacidade cognitiva de escolher com clareza, prejudicando o processo decisório do consumidor. Ou seja: mais informação nem sempre significa melhores escolhas.
Mas o problema vai além da quantidade de dados. Ele atinge também o lado emocional e psicológico de quem trabalha com marketing. É aqui que entra a síndrome do FOMO — Fear of Missing Out, ou “medo de estar perdendo algo”. Essa sensação, cada vez mais comum entre profissionais, surge quando percebemos que outras marcas, concorrentes ou colegas estão “mais atualizados” ou “mais inovadores” do que nós. O resultado? Ansiedade, decisões precipitadas e a busca constante por novidades, mesmo sem uma estratégia bem definida.
De fato, o FOMO virou um motor silencioso de muitas campanhas e planejamentos. Táticas como ofertas por tempo limitado, escassez de produtos e contagens regressivas exploram esse medo de ficar de fora como forma de estimular ação imediata. Um bom exemplo disso é a estratégia de pré-venda da Nike, que frequentemente libera coleções exclusivas por tempo e quantidade limitados. Isso gera comoção, vendas rápidas e sensação de pertencimento entre os consumidores.
Apesar de eficazes no curto prazo, quando usadas sem critério ou propósito real, essas estratégias podem desgastar a marca e gerar desconfiança.
A solução, no entanto, não está em consumir menos informação, mas em consumir melhor. O profissional de marketing do presente — e principalmente do futuro — precisa atuar também como um curador de conteúdo e tendências. Isso significa: filtrar fontes confiáveis, organizar o que é relevante com base nos objetivos da marca, estabelecer rotinas de análise e, quando possível, usar ferramentas de inteligência artificial para auxiliar nesse processo.
Clareza, foco e propósito se tornam escudos contra o ruído. Em vez de seguir todas as tendências, vale mais entender quais realmente fazem sentido para o seu público e para os objetivos do negócio. A tecnologia pode e deve ser uma aliada, mas precisa estar a serviço da inteligência — não da ansiedade.
No fim das contas, o excesso de informação pode ser aliado ou inimigo. Tudo depende da nossa capacidade de transformar o volume em valor, e o ruído em relevância.
* Este texto não reflete necessariamente a opinião do Caieiras Notícias e é de total responsabilidade do colunista.